O Encontro Cultural do Povoado Alagadiço

O , município de Frei Paulo, Sergipe, elaborado e executado por mim, era um sonho de anos em razão do potencial histórico em relação à temática do Cangaço. Destacamos aqui os principais pontos sobre o envolvimento do povoado Alagadiço com Lampião, o Rei do Cangaço, justificando o encontro que, segundo estimativas, contou com a presença de 7.000 pessoas.

O encontro foi dividido em duas partes: apresentações de vários grupos folclóricos e debates com escritores.

Lampião esteve quatro vezes em Alagadiço. O próprio Lampião matou, por engano, o nosso primo saudoso Moisés, na praça do povoado Alagadiço, pois o alvo era Cazuza Paulo, genitor de Moisés. Já relatei esses fatos em meu livro e em várias lives em canais.

Donana Rego, matriarca do povoado, criou Maria do Carmo, filha do casal de cangaceiros Corisco e Dadá. Donana Rego era cunhada do Coronel Napoleão ex-deputado estadual e prefeito de Frei Paulo.

Lampião, após celebrar um pacto de não agressão com o governador do estado na época, o médico Dr. Eronildes de Carvalho, definiu que Alagadiço seria o local onde o subgrupo comandado por Zé Bahiano ficaria.

Episódios importantes incluem a morte do militar ligado a Zé Rufino, quando da tentativa de captura de Zé Bahiano nos Guedes e na Toca da Onça, sem sucesso. Esse episódio levou à prisão de Antônio de Chiquinho, acusado de esconder Zé Bahiano. Havia uma complexa rede de envolvimento e proteção, incluindo Donana Rego, o deputado e o governador.

Outros eventos incluem a morte do velho fazendeiro Matinho de Souza, que havia rompido os laços políticos com os aliados de Dr. Eronildes Carvalho, Napoleão e Donana Rego, e passado para o lado do general Augusto Maynard Gomes e Maurício Ettinger, que criou uma volante própria com apoio dos plantadores de algodão em Frei Paulo.

Houve também o rompimento do pacto dos filhos de Alagadiço para matar o subgrupo de Lampião liderado por Zé Bahiano, episódio que contrariou a rede de proteção.

A morte de Neném de Luiz Pedro na fazenda do deputado Napoleão, próxima a Alagadiço e à Toca da Onça, reforçou a ideia de que Donana Rego e seu cunhado Napoleão protegiam os cangaceiros.

Na região, morreram 5 cangaceiros e 2 militares, além de 5 civis.

O episódio de Zé Sereno na região do distrito de Pinhão foi marcado pela morte do soldado Zé Paes e de uma família constituída por 4 pessoas: um vaqueiro, sua esposa e duas crianças. Nesse episódio trágico, apenas uma criança sobreviveu ao se esconder dos cangaceiros. Anos depois, cheguei a falar com a sobrevivente em Frei Paulo, que relatou o triste e bárbaro episódio.

Donana Rego possuía fazendas em Pinhão e Alagadiço, e chegou a eleger seu filho e seu genro como prefeitos de Pinhão.

Justificava-se, portanto, a realização do Encontro Cultural em 2007. Entre os presentes estavam Antônio Amary, Alcino Alves, a ex-cangaceira Aristeia, Paulo Gastão, os filhos do casal Corisco e Dadá, Silvio Bulhões, Maria do Carmo, Federico Pernambucano de Melo, Aderbal Nogueira, Luiz Antônio Barreto, Antônio Leite, João de Sousa Lima, Zé Candidato e muitos outros.

Antônio Porfirio de Matos Neto
Gestor do Museu do Cangaço

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